Sou Adriana, professora alfabetizadora na Escola Estadual 19 de Maio e coordenadora do Colégio Alta Floresta. Através deste relato de experiência busco colocar minha vivência com uso do material do método IntraAct, para alfabetizar um senhor conhecido carinhosamente por “Seu Zé” que tem sessenta e seis anos, onde presta serviço como zelador no Colégio Alta Floresta, pois a escola conta com um espaço verde, rico, que possui trilha, horta e alguns animais que ele cuida com muito carinho e atenção.
Esse trabalho de alfabetizar o “Seu Zé” começa em uma conversa com a Eliane, a diretora do Colégio Alta Floresta, que ficou sabendo que ele não sabia ler de forma convencional. Ela teve essa informação na metade do primeiro semestre de 2022, onde ela relata que o “Seu Zé” não sabia ler. Perguntei como ela teve essa informação, pois já tinha visto ele com um telefone e usando o WhatsApp. Ela falou que ele necessitou de auxílio da Carla para fazer a leitura dos recados que ele recebia. Esse auxílio antes era feito por sua filha, que morava em sua residência e posteriormente foi morar em Sinop para fazer faculdade.
A partir dessa informação, iniciou-se o movimento de alfabetização do “Seu Zé”, pois acredito que aprender a ler e escrever de forma convencional é abrir as portas para o mundo da dignidade e cidadania, e nesses movimentos de auxiliá-lo, iniciei em julho de 2022 o atendimento, tendo como base o método IntraAct no processo de alfabetização.
Fiz a opção de trabalhar com o método IntraAct, pois já estava trabalhando com esse material com os alunos de desafio de aprendizagem em uma turma de segundo ano na minha sala de aula da Escola Estadual 19 de Maio, onde os alunos tiveram um avanço significativo em seu processo de alfabetização. Com esse olhar de novos métodos que auxiliem os alunos avançarem em seu processo de alfabetização iniciei o trabalho com o referido método.
Para desenvolver o trabalho com o Sr. José no seu processo de alfabetização, comecei nossa aula no período de férias no Colégio Alta Floresta. Inicie a aula com ele entregando o material do método IntraAct onde expliquei que era uma maneira de ensinar a ler através do som das letras. Em seguida da apresentação do material pedi para ele escrever o nome dele, o qual fez com certa dificuldade e relatou que já havia frequentado a escola no período de criança, no entanto, permaneceu por pouco tempo, pois era necessário auxiliar o pai na lida do trabalho da roça. Nesse período que frequentou a escola, não conseguiu aprender a ler. Nessa caminhada até os dias de hoje não teve a oportunidade de frequentar uma sala de aula para aprender a ler, pois a vida foi lhe apresentando outras prioridades para sobrevivência, no entanto, o sonho de aprender a ler continuou guardado em seu coração.
Com essa realidade de vida do “Seu Zé”, começamos nossa primeira aula que aconteceu de uma forma muito marcante, tendo em vista que ele demonstrou bastante vontade em desenvolver a proposta, pois conseguiu identificar as letras (sons das letras) com tranquilidade. A primeira leitura de palavras foi um momento muito significativo para todos do Colégio Alta Floresta. Ao longo das aulas, “Seu Zé” apresentou algumas evoluções e desafios em seu processo de leitura e escrita. No entanto, continuamos a desenvolver a leitura com entusiasmo e, o segundo bloco de letras propostas, foi onde apresentou uma evolução significativa. Aos poucos ele vem compreendendo a relação entre o som e a escrita das letras, o que vem auxiliando a desenvolver autonomia em sua leitura. A cada descoberta, percebo que o “Seu Zé” se enche de esperança e sua evolução na leitura e na escrita com material é cada dia melhor.
O sentimento de esperança de aprender a ler, faz com que ele supere alguns obstáculos que vem se apresentando nessa caminhada, pois na sua residência a esposa também não sabe ler e as atividades propostas para ele desenvolver, fica sem auxílio. Com essa realidade do “Seu Zé” tenho buscado desenvolver anotações do seu desenvolvimento na leitura. Tendo como referência essas observações da evolução dele em seu processo de alfabetização, procuro desenvolver alguns exercícios diagnósticos com base no material do método IntraAct, tendo percebido que a cada aula ele consegue evoluir de forma significativa e encantadora. Mesmo com esse desafio é notável a evolução dele, pois consegue desenvolver a leitura de algumas palavras e frases de forma alfabética, o que é uma vitória em sua trajetória.
Embora o “Seu Zé” ainda não esteja lendo de forma fluente, é notório seu avanço na leitura, para isso o método IntraAct foi fundamental para que ele pudesse avançar de forma significativa. Através desses momentos de aula com “Seu Zé”, pude observar o quanto o conhecimento da leitura traz contribuições para uma vida com autonomia e dignidade e, assim, trazer mais luz ao conhecimento e à vida de um senhor em seu dia a dia.
A experiência de trabalhar o material do método IntraAct com um senhor de 66 anos de idade e poder contribuir para que ele avance em sua aprendizagem está representando um momento de grande riqueza para mim, como ser humano e professora alfabetizadora. Isso me possibilitou perceber que devemos sempre buscar novas metodologias para ensinar e auxiliar os nossos alunos a aprender, desvendando a leitura de forma a contribuir para um mundo um pouco melhor. Gratidão a todos que, de uma maneira ou outra, auxiliaram para que esse método IntraAct chegasse aqui no Brasil.
Adriana Maria Marques Cappellari
Escola Estadual 19 de Maio e Colégio Alta Floresta
Referência
STREIT, Uta. Aprendendo a ler: segundo o método InstraAct: livro do professor – Belo Horizonte, MG. EducaEthos Escola de Formação Humana, 2022.
