Dr. Edison Saraiva Neves
Resenha do livro Neurônios da leitura – Stanislas Dehaene
Parte 2 – (consulte a parte 1)
Quando concluímos a parte 1 deste artigo, Alice estava vendo um cavalo em disparada por um campo intensamente verde. As imagens da cena lhe chegam em “jatos” de fótons à velocidade da luz. É como um canhão de luz tomando a forma de um cavalo que penetra pela pupila dos olhos da menina Alice e segue para a retina rumo ao nervo óptico (segundo nervo craniano) e por este à área da visão no lobo occipital. A retina é como se fosse uma parede no fundo de uma caverna. Hoje já é vista como uma extensão do cérebro e não mais como uma parte da anatomia dos olhos.
Para ser exato temos mais de 210 milhões de células na parede retiniana, mais ou menos 200 milhões são células batizadas pelo seu formato de bastonetes especializadas em extrair o máximo de luz na escuridão. As outras que completam a conta, especializadas em ver com alta luminosidade são chamadas de cones por sua forma geométrica. Estas se aglomeram em uma concavidade na retina por nome fovea, mais para uma janela transparente com 2 mm de diâmetro. Algo como o cérebro “olhando para fora”, metaforicamente imaginando.
Em suma, a luz seja do Sol, de uma lâmpada ou de uma vela reflete nos objetos do mundo penetra pela pupila trazendo o mundo em volta na forma de imagens, se espalha até a retina e fovea e daí vai pelo nervo óptico para a área posterior do cérebro, o occipital, o córtex visual, nosso cinegrafista interno. O cavalo visto pela Alice toma forma, galopa ao vento e ganha signos e significados. Agora, lembrem. Alice fala mas não escreve, ainda. Ela um dia vai ter que separar e sonorizar as letras, uma a uma, o som do C concomitante com a forma da letra. Quando já tiver sonorizado o A, o V e o O, será hora de junta-los e escrever e ler CAVALO. A palavra sonorizada já está com ela desde muito cedo agora chegou a hora de ler e escrever. Hoje já é possível acompanhar em tempo real todo este processo acontecendo no cérebro que está totalmente mapeado como se o mapa do Brasil com cidades, municipios e estados. Não é do escopo deste artigo detalhar como isto foi feito ao longo de muitos anos de pesquisas.
Posso dizer que as áreas de Hartmann em número de ….. permitem aos pesquisadores localizar em detalhe e descrever o processo de aprendizagem dos fonemas e grafemas em sequencia perfeita. Por exemplo, nas áreas de Wernicke, 41, 22 e 42 especializadas em identificação, conhecimento, e associação de palavras em “forma” sonora, já está devidamente preparada para migrar o léxico sonoro armazenado para a área 37, a da assim conhecida, caixa de letras. Em suma, da caixa de sons para a caixa de letras, dos fonemas para os grafemas, e dos grafemas para os fonemas em um looping recursivo criando léxico e semântica, neurônios conversando com neurônios, até automatizar e fluir sem esforço. Isto é o IntraAct. Fluxo e refluxo até o momento Eureka. O cérebro aprendeu a ler e escrever com precisão, velocidade e prosódia.