Palestra Neurociência na Educação

Dr. Edison Saraiva Neves

Resenha do livro Neurônios da leitura – Stanislas Dehaene

Parte 1 –

Este livro é de grande importância para a era que se inicia de trazer para a pedagogia todo o instrumental disponível nos laboratórios de neuroimagem . O neurocientista Stasnilas Dehaene comanda 6 destes labs na Europa ligados em rede, munidos de equipamentos para escaneamento cerebral de crianças e jovens advindos de diversas partes do mundo. Os participantes sentem-se como astronautas da linguagem por entrarem em aparelhos como o de magneto eletroencefalografia, e de Ressonância Magnética Cerebral Funcional (FMRI) .

Quando lerem o que escreverei a seguir, saibam que o texto foi adaptado de um vídeo que fiz mostrando a beleza deste campo do conhecimento. Para a pedagogia é fundamental conhecer o “sistema cibernético”, por nome sistema nervoso central que está à sua disposição, assim como é essencial para um piloto conhecer o carro que dirige. A descrição dos circuitos cerebrais formados durante a aprendizagem das letras escritas e sonorizadas é o sumo desta palestra.

Interessante saber, para continuar está investigação, que os sistemas sensoriais, visão e audição, já estão sendo embrionariamente estruturados desde os 4 meses de vida intra-uterina. Com 16 semanas, o feto já reage sutilmente a impressões luminosas e com 24 a 26 semanas à impressões sonoras. Quando nasce já tem a “filmadora e o gravador” instalados.

Quando uma criança em tenra idade vê, por exemplo, a imagem de um cavalo correndo, nela emergem diversas percepções desde a beleza, a cor, o porte, a velocidade, a agilidade, e isto fica impresso na tela mental do “eu” que vê. Não tem matéria, é pura abstração, no entanto, o cavalo galopa e se o “cinegrafista interno” quiser, até relincha. Oras, onde isto fica? Onde todos estes sinais luminosos se “materializam”?

Digamos que a criança não é alfabetizada, embora já tenha tem um vocabulário de 600 palavras o que é comum aos 6 anos. Percebam que a Alice (nome da criança) tem um léxico bem sedimentado e também uma semântica e sintaxe sofisticadas já que consegue ligar inúmeras palavras e construir frases complexas. O que você está vendo, Alice, pergunta a mãe? Estou vendo um cavalo, mamãe, ela responde.

E o que é que esse cavalo faz? Ela diz, ah, ele é muito veloz. E se a mãe continuasse perguntando, ela ia construir mais frases, com cada vez mais semântica e sintaxe envolvidas. Entretanto ela não sabe escrever o que fala, terá que ser, portanto, alfabetizada. A “caixa da linguagem falada” já está construída, e a das letras terá que ainda ser lavrada nas salas de aula.

Então, perceba que Alice já tem um vocabulário vasto numa área que é chamada de Wernicke, área esta localizada no córtex temporo parietal, à esquerda. Está é uma área da associação de palavras, construção de frases complexas, identificação de sentido, compreensão e conhecimento do mundo objetivo e subjetivo.

Então ali já tem o léxico, mas ainda em fonemas e não em grafemas. Já tem um vocabulário vasto instalado, embora, repito, Alice ainda não saiba escrever. Ela é analfabeta ainda nas letras e alfabetizada na sonorização da percepção do mundo interno do “eu sou”, do “eu quero”, e do mundo externo do “ele e do isto”. Alice já está em estágio avançado de construção verbal de um modelo de mundo, entender e dar sentido a ele. Percebam que o que chamarei de “caixa”, vamos dizer assim, de palavras faladas, de fonemas que se associam, se interconectam, na menina de 6 anos é vasta e sofisticada.

Consulte a parte 2

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