A busca por solucionar as dificuldades em aprender a ler e a escrever das crianças, até meados do século XX, recaiu nos métodos de alfabetização sintéticos ou analíticos procurando responder “como se ensina a ler e a escrever?”. Todos os métodos consideram as operações cognitivas envolvidas na fase inicial da alfabetização. Os métodos sintéticos apoiam-se na ideia de que a língua portuguesa é fonética e silábica, de modo que a dedução é a melhor maneira de dominar a leitura e que a aprendizagem da escrita se dá por meio de um processo que atente para essa característica. Para os métodos analíticos, o todo precede a análise das partes, o ensino da leitura deve se iniciar com porções de sentido, que partem de um todo, para depois se proceder à análise de suas partes constitutivas: a palavra, a sentença e o texto. Ainda existem escolas e professores que adotam princípios metodológicos pertinentes aos dois grupos: sintético-analítico ou eclético.
Nesse processo, todos os métodos são importantes porque nos mostram caminhos seguidos, e nos dão condição para avançarmos no sentido da pesquisa científica, de como a aprendizagem está acontecendo em nossa prática, possibilita novos olhares, novas percepções com evidências mais precisas sobre a aprendizagem da leitura e da escrita. Dessa forma, e com o passar do tempo, os aprendizados oriundos do processo modificaram o foco de nossos questionamentos de “como se ensina a ler e escrever?”, para “como a criança aprende a ler e a escrever?”. Essa mudança de foco na identificação, formulação e discussão do problema reflete a valorização e aplicação do conhecimento científico na área da alfabetização.
Assim, origina-se nos anos 90 a década da Neurociência. Nesse momento foram desenvolvidas muitas pesquisas científicas com o objetivo de compreender como o cérebro aprende a ler e a escrever, o que possibilitou compreender os mecanismos envolvidos na aprendizagem da leitura e da escrita, através do rastreamento da reciclagem neuronal, até podermos chegar à conclusão, de maneira geral, que aprender a ler consiste em acessar, através da visão as áreas da linguagem falada. Nessa perspectiva, a aprendizagem acontece por meio da rota fonológica, que é a responsável pela leitura de uma palavra mesmo que ela seja desconhecida pelo leitor. Ou seja, é a rota responsável pela decodificação grafema/fonema. Dessa forma, as palavras conhecidas e desconhecidas pelo leitor podem ser lidas pela rota fonológica, ampliando assim a consciência fonológica para que o estudante ganhe autonomia e adquira domínio do sistema alfabético.
Assim, buscamos um método que unisse todo esse conhecimento e encontramos o método IntraAct, desenvolvido e aplicado há 30 anos na Alemanha pelos autores Uta Streit, Jasen Frizt e Angélia Fuchs para alfabetizar crianças com dislexia, autismo e TDAH. Com a aplicação desse método, essas crianças especiais passaram a ser alfabetizadas no prazo de 7 a 8 meses, respeitando o ritmo de aprendizagem individual. Quando esse método foi aplicado com crianças sem dificuldades de aprendizagem, o processo de alfabetização levou apenas quatro meses, com as crianças já apresentando a construção da Consciência Fonológica em três meses. Um método que em seu nome contempla não apenas teorias das operações cognitivas, mas sugere a necessidade de interação entre professor e estudante. Com o estabelecimento de uma relação simbiótica, em que ocorre troca instantânea, uma condução do processo de aprendizagem de forma simples, correta e clara, não só da leitura e escrita, como também da matemática e outras áreas do conhecimento. O bom relacionamento estabelecido é fruto de uma conexão mais profunda professor e aprendiz. Prestar atenção e conhecer o aprendiz, onde mora, com quem fica, quais as preferências, olhar nos olhos para compreender seus limites e seus talentos, para com isso saber cativar, envolver e convidar o aprendiz a buscar cada vez mais o conhecimento. A poesia, as histórias, a música, os movimentos são ferramentas que adicionam beleza e simplicidade ao conhecimento, e são instrumentos ricos em símbolos, que trazem a verdade individual e coletiva.
O método IntraAct baseia-se em anos de observação de processos de alfabetização e, também, em estudos científicos da neurociência cognitiva. Leva para a sala de aula o conhecimento da neurociência aplicada, com uma proposta de alfabetização que respeita o funcionamento do cérebro do aprendiz, ou seja, o funcionamento interno do ser humano. É um método prático que concede oportunidade para que o aprendiz experimente êxito individual, concedendo graus de dificuldades definidos sob medida para sua aprendizagem. Assim, o método repousa no princípio da simplicidade, para que os objetivos do aprendiz sejam atingidos sob as circunstâncias do aprendizado, despertando em suas emoções a capacidade, a autonomia e a segurança para exercitar o conhecimento adquirido, também, em circunstâncias cotidianas.
Os estudos da Neurociência, que dão suporte ao método, explicam que o processamento da linguagem e o processamento do significado ocorrem em dois sistemas distintos, com a leitura acontecendo inicialmente sem significado, até que a palavra se encontre gravada “no léxico ortográfico”. Então, a leitura e a escrita precisam ser automatizadas pelo aprendiz, o que torna necessárias a concentração, a atenção e a repetição. Automatizar é uma das habilidades mais inteligentes do ser humano, requisito imprescindível para as outras habilidades, como ser criativo, pensar, descobrir. Assim, o método é aplicado utilizando a repetição para que o aprendiz vá fixando os sons e os grafemas de cada letra, na região do cérebro que os especialistas chamam de caixa de letras.
A apresentação das letras tem uma sequência lógica, em que cada parte está ligada a outra e é ordenada pela facilidade fonética. Assim, a introdução gradual do som de cada letra vai ampliando o conhecimento do aprendiz, elevando a compreensão, ao mesmo tempo em que zela pela maneira como o cérebro aprende. Essa é uma das belezas desse método: a simplicidade na apresentação e condução por parte do educador proporciona ao aprendiz ser participante ativo em todos os processos, aperfeiçoando conhecimentos, habilidades e competências.
A vivência autônoma proporcionada pelo método exercita a capacidade intrínseca do organismo humano de autoaprendizagem, que ocorre no processo de todas as ações dos seres vivos, nas relações introspectivas, com os outros e com o meio. E resulta em mudanças estruturais internas do sistema vivo. Logo, o processo de alfabetização pelo método inclui significados e é uma oportunidade para expressar as emoções do aprendiz, trabalhando a memória de forma permanente. Nessa perspectiva, a memória, quando bem trabalhada desde a infância, transcende a mera capacidade cognitiva de adquirir e armazenar informações.
No Brasil, esse método foi aplicado pela primeira vez pela professora Pscicopedagoga Irene Mendes Duarte, com experiência de 15 anos em alfabetização, com um grupo de 40 crianças: 30 estudantes da turma do 1º ano B, do ano de 2021, da escola Municipal Professor Benjamin Padoa sendo oito estudantes com idades entre 7 e 11 anos e duas crianças especiais. As conduções das práticas desenvolvidas com as crianças especiais foram realizadas pela Neuropsicopedagoga Carmélia Silva de Santana, que, respeitando as orientações recebidas de uma das autoras do método, Sra. Uta Streit, vivenciou junto com as crianças a beleza de vê-las reconhecendo as letras, formando sílabas, lendo palavras, e entendendo o funcionamento da leitura e da escrita em seis meses.
Todo o processo de alfabetização das crianças, o avanço de suas aprendizagens semana a semana foram avaliados, sistematizados e documentados pela bióloga, doutora em Ecologia Aplicada, Carolina Ortiz Costa Franco de Souza, com especialização em ecologia evolutiva humana, para comprovar a eficiência do método e trazer com segurança esse benefício, que vem auxiliar muitas crianças, jovens e adultos brasileiros a adentrar ao universo da leitura e da escrita.
Em 2022, a Secretaria Municipal de Educação, através de um olhar atento e cuidadoso da Secretária Lucinéia Martins de Matos Mazzoni, cria o Programa Alfabetiza Alta Floresta, sob a direção da Professora Psicopedagoga Irene Mendes Duarte, tendo o IntraAct, agora IntraAct Brasil, como metodologia para a alfabetização das crianças. Um ano de colheita farta, de brilho nos olhos e da certeza de estarmos num caminho seguro.
Irene Mendes Duarte
Carmélia Silva de Santana
Carolina Ortiz Costa Franco de Souza
Programa Alfabetiza Alta Floresta – SME/AF
Referências
STREIT, Uta. Aprendendo a ler: segundo o método IntraAct: livro do professor. Belo Horizonte, MG, EducaEthos Escola de Formação Humana, 2022.