Professora Janaína Mourão
Atualmente, os dados sobre alfabetização no Brasil são obtidos por três órgãos oficiais principais: IBGE, INAF e INEP.
1) ANÁLISE DOS DADOS DO IBGE E INAF:
O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, obtém os dados por meio da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) que a cada trimestre entrevista por volta de 211.000 domicílios em aproximadamente 16.000 setores censitários. Os setores censitários são unidades territoriais estabelecidas pelo referido instituto para realização de pesquisas.
Embora o número de pessoas entrevistadas pelo IBGE seja significativo, o instituto considera alfabetizada a pessoa capaz de escrever um bilhete.
Em 2022 foram gerados dados de analfabetismo apenas de pessoas com mais de 15 anos.
De acordo com o instituto, apenas 5,6% da população brasileira com mais de 15 anos pode ser considerada analfabeta. Se comparado a pesquisa realizada em 2018, houve uma diminuição, visto que nesse período a taxa de analfabetismo era de 6,3%. |
O INAF -Indicador de Analfabetismo Funcional, por outro lado, possui 5 critérios para análise da alfabetização no país, que podem ser agrupados em três ou dois critérios, são eles:
O nível analfabeto funcional contém os níveis analfabeto e rudimentar, que podem ser descritos da seguinte forma:
1. Analfabeto → Não consegue realizar tarefas simples que envolvam leituras embora sejam capazes de ler números
2. Rudimentar → Localiza uma ou mais informações em textos muito simples e compara, lê e escreve números familiares (horários, preços, cédulas/moedas, telefone) identificando o maior/menor valor. Reconhece sinais de pontuação.
O número de analfabetos funcionais obtido em 2018, pelo INAF, é de 29% |
A pesquisa do INAF abrange pessoas com idade entre 15 e 64 anos de idade. Diferentemente do IBGE, o número de pessoas entrevistadas é reduzido – apenas 2002 indivíduos de todas as regiões do Brasil.
PROBLEMAS IDENTIFICADOS
Os dados não representam a realidade nacional, como podemos observar ao visitar escolas ou conversar com professores da rede pública.
Além disso, os dados apresentam um problema sério de definição do conceito de alfabetização, analfabetismo e analfabetismo funcional, acarretando números destoantes e pouco fidedignos.
Por fim, não temos dados precisos das crianças entre 8 e 15 anos de idade e nem dados do INAF do ano de 2022.
USO DOS DADOS DO IBGE E INAF
Para o INAF, em 2018, 29% da população brasileira com mais de 15 anos foi considerada analfabeta funcional. Se com 15 anos temos essa porcentagem, o número para indivíduos entre 8 e 15 anos, tende a ser maior, visto que é natural que com o passar dos anos indivíduos aprendam aquilo que não sabem.
Sabemos que nossa metodologia garante que após o 1º ano, ou seja, com 6 ou 7 anos de idade, 95% dos alunos estejam alfabetizados.
Então:
– se com mais de 15 anos os analfabetos funcionais correspondem a 29% da população brasileira
– e se esse número tende a ser ainda maior na população entre 8 e 15 anos (do 3º ao 9º ano)
– e se pelo nosso método conseguimos alcançar um número menor do que 10% de analfabetos funcionais no 1º ano ( 6 a 7 anos de idade).
Podemos garantir que por meio da aplicação do IntraAct nas escolas, haverá uma redução significativa de pessoas analfabetas funcionais com idade superior a 15 anos – visto que terão sido devidamente alfabetizadas na idade adequada.
Caso o método também seja utilizado para recomposição das aprendizagens das crianças entre 8 e 15 anos que já passaram pelo 1º ano e não foram alfabetizadas, a tendência é que haja uma redução ainda mais significativa da taxa.
2) ANÁLISE DOS DADOS DO INEP:
O INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, realiza pesquisas vinculadas ao Ministério da Educação.
No ano de 2016 foi realizada a ANA – Avaliação Nacional da Educação, parte do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
O teste, que tem caráter censitário, foi aplicado em 2,5 milhões de estudantes de 5.545 municípios, em 48.860 escolas e 106.575 turmas. O teste focou grande parte da atenção nas crianças de 3º ano
O teste permitiu a avaliação dos estudantes em 5 níveis para escrita e 4 níveis para leitura, de modo a atestar o desempenho como INSUFICIENTE ou SUFICIENTE.
Na leitura, os conhecimentos variam da leitura de palavras não canônicas com apenas duas ou três sílabas, no nível elementar; à inferências de sentido em textos verbais, no nível desejável.
Na escrita, os estudantes são classificados como elementares quando não escrevem palavras ou não estabelecem correspondência entre as letras grafadas e os sons; e desejáveis, quando são capazes de redigir narrativas claras com uso de conectivos.
O teste foi composto pela seguinte estrutura de questões:
Leitura – 20 questões de resposta objetiva, com quatro alternativas cada.
Escrita – 03 questões de resposta construída, por meio das quais o estudante teve de escrever duas palavras de estruturas silábicas distintas, com base em imagem, e produzir um pequeno texto, a partir do comando da questão.
Os resultados da ANA revelaram que:
No âmbito da leitura, 54,73% dos estudantes acima dos 8 anos (3ºano), encontram-se nos níveis elementares. Além disso, os resultados demonstraram que 33,95% dos estudantes ainda estão nos níveis elementares de escrita. |
Uma outra pesquisa realizada pelo INEP se chama ALFABETIZA BRASIL, também parte do SAEB.
Os estudantes do 2º ano responderam um único caderno de prova composto de 16 itens de múltipla escolha, 2 itens de escrita de palavras e 1 de produção textual.
De acordo com o teste, os estudantes são considerados alfabetizados se:
leem pequenos textos, formados por períodos curtos e localizam informações na superfície textual. Produzem inferências básicas com base na articulação entre texto verbal e não verbal, como em tirinhas e histórias em quadrinhos. Escrevem, ainda, com desvios ortográficos, textos que circulam na vida cotidiana para fins de uma comunicação simples: convidar, lembrar algo, por exemplo (INEP).
Os resultados de 2021 apontam que:
56,4% dos alunos foram considerados não alfabetizados no 2º ano, número superior ao encontrado no ano de 2019, que correspondia a 39,7%. Esse aumento pode ser justificado pelos impactos da COVID-19. |
PROBLEMAS IDENTIFICADOS
Os dados da ANA não especificam os termos alfabetizados e analfabetos com clareza. Além disso, os dados se restringem ao 3º ano.
Os dados do Alfabetiza Brasil se limitam apenas ao 2º ano e embora tenham uma definição de alfabetização, ainda assim demonstram certa fragilidade pois consideram como alfabetizados estudantes que leem textos com períodos simples e que escrevem com desvios ortográficos.
USO DOS DADOS DO INEP
Os dados da Avaliação Nacional da Educação – ANA, embora de 2016, servem para revelar a pouca efetividade do primeiro e segundo ano, visto que estes deixam lacunas significativas nos conhecimentos de leitura e escrita nos estudantes do 3º ano. Um dos motivos para isso certamente é o despreparo dos professores e o uso de métodos que não servem para todos os estudantes. O IntraAct, além de ter um método que respeita como o cérebro aprende, fornece toda a formação e acompanhamento dos professores, portanto certamente é um potencial melhorador das taxas identificadas pela ANA.
Os dados do programa Alfabetiza Brasil também evidenciam carência da formação de professores e dos métodos de alfabetização, assim como comprovam os impactos da COVID-19 nos níveis de alfabetização dos estudantes. Isso permite inferir que em 2023, muitas crianças acima do 3º ano certamente precisam de recomposição de aprendizagem para suprir as lacunas deixadas pelo modelo de aulas adotado ao longo dos períodos de lockdowns. O método IntraAct pode ser usado para recuperar os estudantes que avançam nas séries do ensino fundamental sem ter a base fundamental para uma vida de estudos – leitura e escrita consolidada.
Os dados do Alfabetiza Brasil parecem ser os mais apropriados para atestar a necessidade de melhoria da alfabetização no 1º ano e também para legitimar a importância de um programa de recuperação de aprendizagens após os danos deixados pela COVID-19.
Vale ressaltar que, como não há uma definição de alfabetização de alto desempenho que considere a prosódia, velocidade e precisão, o número de 56,4% de alunos não alfabetizados no 2º ano em 2021, conforme atestado pelo Alfabetiza Brasil, poderia ser ainda maior.