Método IntraAct no plano de intervenção da alfabetização

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Método IntraAct no plano de intervenção da alfabetização

Introdução

Este relato traz a experiência vivida com o Método IntraAct, no processo de alfabetização de um grupo de estudantes da Escola Estadual Professora Marines Fátima de Sá Teixeira, instituição localizada no canteiro central na Cidade de Alta Floresta/MT. O trabalho foi desenvolvido com 6 (seis) estudantes da turma do 1° ano B com idades entre 6 e 7 anos, sendo 1 (um) desses diagnosticado com Transtorno do Espectro do Autismo – TEA, que não estavam desenvolvendo as habilidades de leitura e escrita como as demais crianças da turma.  

Desse modo, fez-se necessária uma intervenção pedagógica com um Plano de Intervenção, buscando a promoção de estratégias e métodos para garantir a esses estudantes o direito de aprender. O Plano de Intervenção surge como uma necessidade de se alcançar alunos que já tiveram acesso a um determinado conteúdo, mas que não conseguiram desenvolver as habilidades esperadas quando tendo acesso ao mesmo (MATO GROSSO, 2018). 

O ponto de partida do Plano de Intervenção foi o método IntraAct. Ao longo da formação para professores – Alfabetiza MT, que contou com a participação das redes Municipal e Estadual, foi possível ter o primeiro contato com o método que já estava sendo aplicado nas escolas municipais desde o início do ano, onde as instituições da rede estadual, não tinha até então conhecimento do mesmo. 

As atividades interventivas objetivando promover o desenvolvimento da leitura e escrita com o método IntraAct, tiveram início no mês de setembro do ano 2022, com previsão de término ao final do ano letivo.

O método IntraAct teve sua origem na Alemanha e chegou ao Brasil dada a necessidade de as crianças aprenderem a ler e a escrever com mais rapidez. A edição brasileira conta com mudanças, por ter sido adaptada para a nossa língua. Através da professora Irene Duarte chegou ao município de Alta Floresta no ano 2021. O referido método, conta com um material que apresenta os sons e os grafemas aos estudantes em blocos, fazendo uso de fichas com quadros, contendo inicialmente um único grafema e cores que vão se repetindo ao longo da ficha, posteriormente a ficha evolui alternando grafemas, em seguida formando sílabas e palavras. Para melhor direcionamento do que está sendo lido, as crianças recebem um papel com uma abertura ao centro, chamada “padrão”. 

A partir de pesquisas científicas, verificou-se que os nossos olhos fixam somente um ponto no texto e que para ler corretamente, faz-se necessário construir uma janela perceptiva favorável a leitura, adquirindo um contato preciso e inconsciente dos movimentos oculares, sendo tais habilidades adquiridas através de processos de automação. Nesse viés é que foi desenvolvido o método IntraAct, onde o mesmo proporciona um treino intensivo da consciência fonológica (Streit, Jansen e Fuchs, 2022).

A consciência fonológica, habilidade essencial para aprender a ler e soletrar com eficácia, necessita de ensino explícito e sistematizado (Streit, Jansen e Fuchs, 2022). O nosso sistema de escrita é alfabético, baseia-se no princípio alfabético, onde os fonemas são representados por grafemas, sendo a fônica – estudo consciente e concentrado da relação entre sons e símbolos com o objetivo de aprender a ler e escrever, importante na decodificação e codificação do sistema de linguagem escrita (Savage, 2015).

Com o objetivo de desenvolver as referidas habilidades nos estudantes, foram elaborados cadernos com fichas de leitura inspirados no material IntraAct, onde cada estudante recebeu o seu caderno. Nesse caderno, os grafemas foram apresentados com a instrução explícita do som que corresponde ao mesmo, começando por sons de mais fácil percepção por parte das crianças. A ficha que apresenta o grafema/fone é composta por uma repetição do mesmo, onde também são inseridas cores com o objetivo de limpar a memória de curto prazo da criança durante a repetição das letras. Ao passo que a criança aprende dois sons – vogal/consoante, alternando-se uma e outra. Posteriormente são apresentadas as sílabas formadas a partir da junção dos sons aprendidos, palavras formadas a partir das sílabas e frases com a junção das palavras.

Desenvolvimento 

Utilizou-se para a produção do material individual de cada estudante, um caderno brochura de capa dura, papel cartão e folha de sulfite. Partindo do livro com o conteúdo do método, que foi disponibilizado pela Secretaria Municipal de Educação de Alta Floresta, foram digitadas as fichas de exercícios em documento Word, sendo essas impressas em papel sulfite e coladas no caderno. Com o papel cartão, foram feitos os “padrões” – quadrado proporcional ao tamanho do caderno com um recorte no centro, formando uma “janela”.

Finalizada a produção do material, esses foram entregues aos estudantes, sendo notado que os mesmos ficaram empolgados desde o primeiro contato. Foi explicado às crianças como seria feito o uso do material durante as aulas, que ocorreria sob a orientação e supervisão da professora. Por se tratar de uma atividade interventiva que não contava com a participação de todos os alunos da turma, a execução da mesma tornou-se um desafio, visto que naquele momento deveriam ser direcionadas aos demais discentes outras atividades, planejadas de modo que pudessem desenvolver com autonomia, apenas com a instrução inicial da docente. Mas com muita dedicação, organização e perseverança, tais desafios foram sendo superados. 

Após os alunos terem compreendido o funcionamento do material, utilizaram-se do “padrão” como suporte para o movimento ocular no sentido da leitura, da direita para a esquerda. O “padrão” era colocado sobre a página, de modo a mostrar apenas o quadro do canto superior esquerdo, sempre deslizado no sentido da leitura, enquanto as crianças diziam o som da letra ou cor que apareciam. O exercício foi feito em cada página até que cada estudante fizesse a leitura com segurança e celeridade.

As atividades que passaram a fazer parte da rotina diária dos estudantes levavam cerca de dez minutos, nos quais era possível perceber a atenção focada que os mesmos davam naquele momento, ou seja, o tempo era aproveitado com qualidade. Gradativamente, quatro dos seis estudantes passaram a identificar os sons isolados, fazer a junção dos sons formando as sílabas e a ler palavras, que a princípio eram bem simples, mas que os encorajaram a querer mais. 

Após terem aprendido o bloco de letras “M, A, L, O”, onde foi possível ler palavras com esse grupo de letras, passaram a compreender o funcionamento do sistema de escrita, percebendo que os símbolos (grafemas) representam os sons da fala. Essas crianças ficaram motivadas, pois o fato de terem já conseguido ler com autonomia as palavras do bloco, fez com que se sentissem capazes de aprender cada vez mais. 

A medida que a maioria avançou, dois dos alunos, público alvo desse relato foram “ficando para trás”, sendo que um já lê palavras do primeiro bloco, enquanto que o outro obteve menos avanços. É válido destacar que ambas as crianças apresentam dificuldades que ultrapassam a barreira educacional, sendo necessário parcerias com outras áreas para um melhor desenvolvimento de seus respectivos potenciais.

Considerações

A adoção do método IntraAct como estratégia no plano de intervenção, trouxe resultados exitosos para a turma do 1° ano B da escola. Ainda que não tenha atingido 100% dos estudantes lendo, pode-se perceber a sua eficiência. Os alunos que integram a atual turma do 1° ano estão vindo de um período pós-pandêmico, que impossibilitou o pleno desenvolvimento das habilidades precursoras da alfabetização. Ainda que estando inseridas nesse contexto, as crianças conseguiram avançar, mesmo as que não estão lendo, pois nessas foi notória a presença de habilidades de consciência de sons, de sílabas e palavras sendo desenvolvidas, além de noções de direcionamento, entendendo que os textos apresentam uma estrutura que necessita ser obedecida, no âmbito da leitura e escrita.

Após dois meses em execução e com base em avaliação processual, foi possível identificar todos esses avanços. Com o Ano Letivo ainda em curso no ato desse relato, esses progressos tendem a se expandir, com a possibilidade de mais avanços para o próximo ano, quando já encaminhados, esses estudantes podem estar se desenvolvendo cada vez mais.

Anieli Barbosa
Escola Estadual Professora Marines Fátima de Sá Teixeira

Referências

MATO GROSSO. Documento de Referência Curricular Para Mato Grosso. Concepções para Educação Básica. 2018.

SAVAGE, John F. Aprender a ler e a escrever a partir da fônica – Tradução: Cynthia Beatrice Costa. 4.ed. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda, 2015.

STREIT, Uta; JANSEN, Fritz; FUCHS, Angelika. Aprendendo a ler segundo o método IntraAct  – Tradução: Fernando Aymoré. 1.ed. Belo Horizonte: EducaEthos, 2022.

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